quinta-feira, 24 de setembro de 2009

NO TEMPO DAS CARRETERAS - 09

As carreteras sempre exerceram sobre mim um fascínio que acabou criando o sonho de " um dia" aportar em terras platenses, para ver de perto estas joias mecanicas que os gauchos nos anos 50 adotaram com muita competência e garra.


Este dia, "um determinado dia do ano de 1970" chegou e aconteceu. Já com meus 22 anos de idade, com o Brasil Tri Campeão Mundial de Futebol e demitido do estágio em Mecanica, resolvi tirar alguns dias para esfriar a cuca, e seguir este meu sonho.
Através de um voo com o VISCOUNT da PLUNA , aportei numa tarde de quinta feira em Buenos Aires, e hospedei me, em um daqueles hoteis cuja as estrelas estão só no céu. Já sabia que dali a dois dias iria ocorrer " una carrera de TCs em Cordoba, más precisamente no autodromo de Oscar Cabalén". De Buenos a Cordoba seguiu em um "autobus" com o tempo cronometrado para chegar a tempo de ver as tais TCs de perto, assistir la carrera, dar uma volta em Cordoba e voltar dormindo no autobus a Buenos, pois a grana que eu tinha não era lá essas coisas para bancar mais um hotel.
Finalmente depois de muitos papos, planos e conversas com a turma aqui em São Paulo, estava eu lá na Argentina, frente a frente com as TCs e os grandes volantes oriundos da escola Juan Manuel Fangio.
Eu mesmo não acreditava, mas sentia dentro de mim uma emoção sem fim e ao mesmo tempo, um certo orgulho de estar lá.
As TCs (turismo carreteras) já não eram mais as "cupecitas" ou seja aqueles coupes que há muito conheciamos aqui no Brasil. As TCs de agora dos anos 70 mais pareciam carros protótipos, com carrocerias aerodinamicas, mas com um ronco que em muito lembravam os V8 das chevrolet corvette do Camilo, Justino de Maio, Caetano Daminiani , Andreattas e de outros herois nacionais.
O acesso ao boxe era franqueado a todos os "fanáticos de las carreras" que assim como eu, com suas "cámaras" (máquina fotográfica - a minha era uma Yashica tipo caixote ) a tira colo, iam registrando tudo o que lhes era valioso e interessante .
Esta total liberdade e a atenção prestada ao público pagante (lá todos pagavam - não havia hospitality center e nem furão) talvez seja a razão histórica do sucesso do automobilismo argentino que sempre atrai milhares de pessôas aos seus autodromos e circuitos de estrada.
Os grandes nomes "idolos" tais como; Luis Di Palma, Carlos Pairetti, Gaston Perkins e outros lá estavam, disponiveis e solicitos, a atender os "seguidores de seus fans club" (torcida organizada, tal como no futebol).
A "carrera" em si, era uma das provas do campeonato argentino de TC (Turismo Carretera), com a particularidade da prova ser composta por cinco séries de 50 voltas cada, computando se a soma de tempos. Enfim quase um dia inteiro de corridas sempre muito disputadas e com grande quantidade de competidores.
Largada de uma das séries - sempre com grande número de competidores.

Uma amostra do nivel das corridas. As disputas por uma determinada posição nunca envolviam menos do que quatro carros.

Pela minha anotação na foto, este TC, é um FORD pilotado por Carlos Pairetti. Logo atrás disputando a posição vem um Torino na sua forma normal, preparado para TC.

mais uma disputa por posição entre dois TCs.

Um fato muito interessante; o maior domínio, eram dos carros com motor Tornado ; as TCs Liebres Tornado e ... os Berta Tornado ( sim os Bertas do famoso Orestes Berta ).
Outro fato que me chamou atenção na época, foi a presença marcante da TV na transmissão da corrida (fato que era raríssimo de acontecer aqui no Brasil) e o entusiamo do público, apesar do frio intenso que fazia.
A melhor volta da prova considerando as cinco séries foi de 1 min 3 seg. a uma velocidade de 176,360 km/h, realizada pelo piloto Luis Di Palma com um Berta Tornado.